Relendo um texto da Eliana Rigol me deparo com a frase “Não tenho 75 anos. Se tiver sorte, tenho 15.
Os 75 já se foram” e então lembrei-me de que no próximo mês completarei 51
anos, ou seja, se tiver sorte ainda e imitar a minha avó, tenho aproximadamente
50.
Mas como não estou em Portugal (inveja da Eliana), talvez eu
tenha bem menos.
Comemorar aniversários sempre foi uma alegria, os meus 50
foram mágicos, graças aos meus queridos amigos e aos meus filhos e sei que independentemente
de onde estiver, sempre sentirei o friozinho na barriga nessa contagem de tempo.
Não me recordo de comemorar meus aniversários na infância,
talvez por que não comemorasse mesmo. O primeiro que tenho recordação foi o de
15 anos, e a melhor memória dele é a do final da festa, quando fiquei ouvindo
os discos de vinis que ganhara, na companhia de meu padrinho, e de meu vestido
vermelho que minha mãe fizera.
E percebo que são as lembranças que vão construindo o que
somos e como reagimos aos fatos. São as experiências pelas quais passei que me
fazem sentir tanta gratidão àqueles que estão e continuam ao meu lado (mesmo
que não perto).
Sei que várias possibilidades sempre estão por vir, porém a sensação
mais forte é a da morte, e a Eliana está certa. Morte como fechamento de
ciclos, de histórias, que ocorre todos os dias, ao final do mês, ao final do
ano e, no meu caso, a cada 05 de maio.
Gosto dessa ideia de encerrar um ciclo, perceber que vivi da
forma que pude, o que me cabia no momento.
Em momento tão conturbado resta a certeza de sempre: cada
dia é sempre menos, e por isso a nossa noção de tempo é tão palpável, também
por isso tão precioso se faz viver como se fosse o último instante.
Abril/2020