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sábado, 19 de junho de 2010

Assovio

Nunca havia parado para pensar o quão lindo é um assovio, principalmente se ele vem de alguém que gosta realmente de música, em toda sua expressão. Recentemente percebi que o assovio de meu pai estava presente em todos os momentos de minha vida e eu nunca tinha parado para pensar nisso, também não precisava, pois afinal eu apenas o “sentia”.
Com a possibilidade recente de nunca mais ouvir meu pai assoviar suas músicas prediletas, comecei a recordar que isso sempre esteve presente na vida de minha família. Quando criança, sempre sabia quando ele estava chegando do trabalho ou da boemia, de longe o som melodioso nos chegava aos ouvidos. Mais tarde, já adultos, acho que ele desenvolveu o hábito de chegar às nossas casas sempre assoviando, meio que para se anunciar e não chegar em silêncio.
Mas além desses momentos, é comum surpreendermos assovios de grandes músicas enquanto ele prepara seu café, trabalha, caminha ou simplesmente exerce qualquer atividade doméstica corriqueira. Isso virou sua marca, sempre muito afinado.
Percebo agora o “lugar comum” de apenas valorizar aquilo que estamos prestes a perder. Mas acredito que não seja bem assim neste caso. Não quer dizer que antes não valorizava, mas que era tão natural em minha vida, que agora não consigo imaginar a sua falta, essa melodia sempre esteve presente em minha alma, tão entranhada que sinto agora a perda de um pedaço meu.
Fico imaginando meu pai privado de um enorme prazer em sua vida, mas também imagino a falta que isso nos fará. Ainda bem que a vida é maior que tudo isso e com certeza ele encontrará um jeito de fazer sua música e nos embalar.

Valdira da Silva Rosa.