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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Imensidão


Chama em pele, te sinto e te toco,

imensidão...

Perco-me no infinito que me toca

Ilumina-se a chama em tuda face,

a paixão da minha acolhe-a e delicia-se

Todo o ar brilha

Arde o crepitar de ti em mim

e vencemo-nos por perdidos

na colorida faixa da arte

de encontrarmo-nos.



(Valdira S. Rosa)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Saudades



Mais um feriado de páscoa chegou e, ao ler um texto em outro blog, lembrei-me com nitidez da infância pobre que tive no sítio de meu avô. Senti um misto de saudade e tristeza, pois apesar das contradições era uma vida e tanto. Mas é claro, eu e meu irmão não tínhamos a luxúria da cidade que muitas vezes víamos com nossos primos, mas tínhamos inúmeras árvores para subir, fazer de casinha, de ônibus, de cavalo, frutas diversas também (que na época não dávamos tanto valor, mas enchiam nossas barrigas).
Lembro bem que bonecas, carrinhos e bicicletas eram sonhos, assim como os famosos ovos de páscoa. Às vezes ganhávamos alguns de parentes, mas não de nossos pais, não havia a menor condição e lembro ainda do esforço de minha mãe em tentar nos dar algo, nem que fosse um docinho embrulhado em papel bonito.
Mas tínhamos nossos amigos “matinhos”, que era alguma muda de árvore que adotávamos e sempre passávamos para ver como estavam. Eu gostava daqueles de folhas bem tenras e verde-claras, meu irmão preferia os robustos de folhas largas e disputávamos para ver qual estava mais bonito e desenvolvido.
Outra alegria daquela época era o “Bumm... báaaa!”, uma brincadeira que inventamos e volta e meia nos faz rir nas lembranças. Tratava-se de um pé de maracujá enorme (para os nossos olhos) que se enrolava em outra planta e deixava seus braços pendurados, onde segurávamos um de cada lado, de mãos dadas. Como ele ficava numa vala, assim, nessa posição, corríamos de um lado a outro gritando “Bummm” e voltávamos arrastados pelos galhos, esfregando as bundas no chão e gritando “Báaaa!”. Era uma das melhores brincadeiras que tínhamos e nisto a única parte triste era quando a mãe chamava...
Entre as nuvens de minhas lembranças, um fato triste que recordo foi o ocorrido na casa de minha avó, que era travessa e esperta. Eu tinha uns sete ou oito anos, já havia passado a páscoa e não lembro se ganhara ovos de chocolate, isso não me marcou. Cheguei à casa de minha avó, meu passeio predileto, e ela me disse que se eu lavasse sua louça ganharia uma surpresa. Empolgadíssima, perguntei-lhe se era um ovo de páscoa, pois tinha visto na cidade mais próxima que eles continuavam expostos nas vitrines de padarias. Ela confirmou, sorriu, era isso mesmo. Lavei sua pequena louça na maior animação e quando terminei fiquei a espera do meu prêmio, que veio enroladinho, mas era muito redondo e pequeno... ao abrir vi brilhar um pequeno limão, da produção de meu avós, em minhas mãos molhadas. Vovó riu muito e me garantiu que depois me daria um de verdade. Não sei se isso chegou a acontecer, apenas essa parte ficou marcada em minha memória, tão forte quanto o amor que eu sentia por meus avós. E quando me lembro deles, sinto cheiro de milho assado na brasa, raspa de coco, batata doce, inhame e aipim, cozidos para o lanche com leite e café.
“Eita vida besta, meu Deus!”


Valdira S. Rosa