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sábado, 2 de dezembro de 2017

CERRADO


Sentou-se entre os galhos secos e as minúsculas flores lilases.
Estava quente, seco, o vento não era fresco. Mas o céu era azul intenso, de um brilho aterrador.
Sentiu o sol queimar os ombros e em vão tentou se cobrir.
As imagens fundiam-se às lágrimas, numa mistura de real com suas angústias. O cheiro ardido do cerrado seco embargava os outros sentidos. Tentou levantar, não houve resposta do corpo adormecido.
De repente ela pousou em seu braço, leve e faceira. Tinha um brilho incomum e se confundia às flores. Inicialmente pensou em tocá-la, mas parecia tão fugidia que sentiu medo. Soltou um leve suspiro em sua direção, mas sua hóspede apenas trepidou as asas e voltou a uma posição confortável. Então decidiu por deixá-la ali, repentina e melancólica.
Por longo tempo ficou a admirar sua frágil existência, eternamente bela.
O inseto também parecia admirá-la, frágil e patética. E nesse espaço temporal nada aconteceu, a vida parou, o vento cessou, as dores diluíram-se, o sol deixou de arder.

E então, lentamente, ela se foi, o voo foi certo e repentino, a vida voltou a fluir, o ar pesou. Olhou ao longe e percebeu a mata de galeria que não vira antes.
Tomou coragem, ergueu-se e foi.
(Valdira Rosa)