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terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Viagem

O dia amanhecera brilhante. Não havia sol intenso, mas o céu estava de um azul muito claro e tristonho. As crianças brincavam próximas à porta da cozinha enquanto a mãe preparava a mamadeira rala para o mais novo.
- Mãe, tô com fome! Resmungou uma das crianças.
Ela olhou-o intensamente, seus olhos opacos pararam no rosto ingênuo da criança.
- No trem haverá o que comer.

Eles sorriram, felizes. Ficaram imaginando o trem, a viagem que fariam. Poucas vezes tiveram a oportunidade de ver o trem, entrar, nunca. Pensavam nos banquinhos forrados que sentariam para olhar pela janela.
Enquanto a mãe preparava tudo para a viagem, eles ficaram ali, a contemplar o sonho que estava por vir. Ela colocou tudo cuidadosamente em bolsas de papel e algumas sacolas plásticas.
A caminhada até a estação foi lenta por causa da bagagem, mas animada pelos sonhos. E de todos quem mais os tinha era a mãe. Ela olhava calmamente o horizonte, cada filho, o céu, as trouxas e sorria, não um sorriso amargo, mas esperançoso. Em nenhum momento voltou-se para trás. Levava o filho menor no colo, que deveria ter um ano e na frente iam os outros: o mais velho, de uns dez anos, a menina de cinco e outro de três.
Finalmente chegaram à estação. Estava cheia. Eles gostaram disso. Mais gente para assistir a viagem. Há tanto tempo que esperavam por ela. A mãe falara nela todos os dias nas últimas semanas e segundo ela seria maravilhosa. Eles teriam o que comer, roupas, veriam pessoas queridas, brinquedos. E sua certeza era tamanha que eles já conseguiam ver tudo.
Pararam no meio da estação, atraindo sempre olhares curiosos. Colocaram suas bolsas no chão. Ela deixou o pequeno no colo do mais velho e mandou a menina segurar a mão do outro.
- Mãe, você vai comprar os bilhetes? O mais velho perguntou-lhe curioso.
- Sim. Cuide bem deles. Não os deixe vir atrás de mim.
Logo eles se distraíram com tanto o que olhar. Ela foi, caminhando incerta em direção ao guichê. Olhou de longe, afastou-se e foi ao encontro do trem. Parecia já pisar em nuvens. Olhou ainda uma vez para trás, viu que eles sorriam. Andou mais rápido. O trem não costuma se atrasar. Pisava firme, reta. O som do trem abafou o grito. Sentiu que flutuava. Viu os filhos sorrindo ainda. Viu luzes, pessoas, brancura...

- Como aconteceu?
- Não sei. Não deu tempo de parar. Ela viu o trem. - O desespero tomava conta do maquinista.
- Acho que eles são filhos dela...
Apontavam e olhavam as quatro crianças sorridentes no meio da estação.
- Onde está sua mãe?
- Ela já vem, foi comprar as passagens para nossa viagem.

Valdira S. Rosa.

Um comentário:

"Naza" disse...

Nossa
Preciso me levantar. Mas estou sem forças aqui...