Numa nuvem dispersa e fria ela desceu ao poço da alma.
Visitava os danos sofridos, os arranhões e até os rasgos mais profundos. Estavam lá, disformes, taciturnos, todos com sinais de sangramento e cicatrizações esparsas. Alguns ainda sangravam, outros já se mostravam secos, com cicatrizes robustas.
Apesar do sofrimento evidente, dos danos espalhados, havia beleza e superioridade, havia um ar doce e selvagem.
E assim, no meio dos danos, encontrou tesouros. A princípio, tímidos e ainda ofuscados pela dor, mas a um olhar mais atento se via o brilho e a leveza de sua constância.
Não fez alardes, nem para as dores e menos ainda para os tesouros descobertos, deixou-os em sua timidez e quietude, para que permanecessem exatamente em seus pontos de solidão e aconchego.
Sorriu, sentiu que as lágrimas não eram mais de dor, e sim de uma completa ciência do que se passava ali em seu mundo secreto.
2 comentários:
Muito bom! Como sempre, bem lispecteriana...
Obrigada, Charles! Bom compartilhar a ânsia de escrever com amigos.
Abraços.
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