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sábado, 17 de agosto de 2019

Manhã


Talvez fosse o sol
não estava tão certa
mas o dia se mostrava perfumado
as cores saltavam a cada canto
e o vento era apenas um detalhe, confuso e sensual
sentia na pele o toque de cada cor.
Movia-se vagarosamente,
tocou a ponta dos dedos na delicadeza da flor,
olhou de canto uma folha leve conduzida pelo ar,
roçou as pernas nos galhos ainda molhados de orvalho,
resolveu sentar.
O cheiro se intensificou,
A luz banhou seu corpo, esticou-se
as mãos tocaram a terra, de leve, era um sussurro.
Esticou-se um pouco mais, deitou.
Espreguiçou-se longamente, como os gatos fazem,
O capim tocou-lhe os cabelos, confundindo-se
Os lábios estavam úmidos, num semi-sorriso, discreto
Os olhos piscavam lentamente, num baile de lágrimas
E então percebeu que era um único ser, um só corpo, Gaia.

Valdira Rosa

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Eu vejo flores em você


Ela queria o mar,
o mais intenso e misterioso oceano.
Queria as estrelas,
as mais distantes e inalcançáveis.
Queria o vento,
aquele que desmancha castelos, cabelos,
que embala as ondas, embarga sentimentos.
Queria ainda a lua,
em todas as suas fases, humores e belezas
desde a mais escondida até a mais exuberante e cheia de si.
Queria as flores,
inúmeras, singelas, perfumadas, azuis, rubras,
todas soltas ao vento para colorir o mundo.

Valdira S. Rosa

Luto




O inverno chegou, e com ele o frio sentimento.
No início era pequeno, sombrio e até tímido, mas logo se tornou largo, embaçado e sufocado.
Dominou os dias, a escuridão da noite e o céu, e tudo se tornou sensualmente triste, lúgubre.
Não via o sol, não via a lua e nem sentia o vento dos dias.
Mas não era feio, era o luto, era necessário, era a cura.
Sentiu a carne se rasgar, a pele arder, os olhos incharem, a alma encolher.
O vazio chegou, fúnebre, e deixou os espaços soltos, terra úmida, a espera de luz, de flores, de chuva, de alma lavada.

Valdira S. Rosa