Sentou-se entre os
galhos secos e as minúsculas flores lilases.
Estava quente, seco,
o vento não era fresco. Mas o céu era azul intenso, de um brilho
aterrador.
Sentiu o sol queimar os ombros e em vão tentou se
cobrir.
As imagens fundiam-se às lágrimas, numa mistura de real com
suas angústias. O cheiro ardido do cerrado seco embargava os outros
sentidos. Tentou levantar, não houve resposta do corpo adormecido.
De repente ela
pousou em seu braço, leve e faceira. Tinha um brilho incomum e se
confundia às flores. Inicialmente pensou em tocá-la, mas parecia
tão fugidia que sentiu medo. Soltou um leve suspiro em sua direção,
mas sua hóspede apenas trepidou as asas e voltou a uma posição confortável.
Então decidiu por deixá-la ali, repentina e melancólica.
Por longo tempo
ficou a admirar sua frágil existência, eternamente bela.
O inseto também
parecia admirá-la, frágil e patética. E nesse espaço temporal
nada aconteceu, a vida parou, o vento cessou, as dores diluíram-se,
o sol deixou de arder.
E então,
lentamente, ela se foi, o voo foi certo e repentino, a vida voltou a
fluir, o ar pesou. Olhou ao longe e percebeu a mata de galeria que
não vira antes.
Tomou coragem, ergueu-se e foi.
(Valdira Rosa)